Riscos e vulnerabilidades: os efeitos das mudanças climáticas

Por Sara Meneses (*)

Muita expectativa devido à pandemia circundou o V Congresso Internacional de Riscos (website – captura de tela), que começou hoje, dia 12 de outubro, em Coimbra, Portugal. O evento estava marcado para maio e, em março, a comissão organizadora tomou a decisão de adiar o evento para outubro, de forma presencial.

Em agosto, os congressistas e os participantes receberam notificação de que o evento iria acontecer de forma híbrida, parte presencial, respeitando todas as medidas sanitárias a fim de evitar contágio e aglomeração, e parte online, por videoconferência. E que a sessão dos pôster seria realizada de modo remoto a partir de exposição virtual em telas nos corredores da Universidade de Coimbra, onde se realiza o evento. O pôster que inscrevemos foi selecionado e ele tem a ID 051 nesta lista de comunicações aceitas. Para ler o nosso pôster clique Poster Foco no Cerrado.

Cerimônia de Abertura

Remotamente estamos acompanhando e cobrindo o V Congresso, pois, estar em Portugal, agora, não seria possível. A Sessão de Abertura que acompanhei e, em seguida a Conferência, desde logo posso dizer que a estreia foi um sucesso. O Prof. Dr. Luciano Lourenço, da Universidade de Coimbra, agradeceu a participação de todos e falou, também, sobre como seriam realizadas as atividades da semana. Em seguida, o diretor da faculdade de Letras, professor Rui Carlos, passou uma mensagem de motivação sobre aprender a lidar com as mudanças, procurar respostas inovadoras e não deixar a esperança de lado. Outros dois convidados também falaram na Sessão de Abertura: o diretor nacional de Planejamento de Urgência, engenheiro José Oliveira, e o comandante das Forças Terrestres, o tenente-general António Martins Pereira. José Oliveira falou sobre as ações de prevenção contra os riscos e as emergências e as expectativas com os resultados apresentados no V Congresso. António Martins mostrou os meios utilizados pelo Exército português para minimizar riscos e vulnerabilidades e a importância de separar as ações imediatas e as planejadas.

Ao final da cerimônia de Abertura, a secretária de estado da Administração Interna, dra. Patrícia Gaspar, ao discursar, disse que o cenário atual é uma janela de oportunidade. Ela explica que, se há algo de positivo nessa pandemia, foi a valorização do setor de proteção civil e prevenção de riscos.

É possível conferir mais detalhes e outras mensagens pelo canal do Youtube da Riscos.

Palestra de Abertura – Analogias com o Distrito Federal

A Conferência de Abertura ficou a cargo do Prof. Dr. Jorge Olcina Cantos que defendeu a necessidade urgente de ações de adaptação. Com o título – Cambio climático y riesgos: Pasado, presente y futuro. La necesidad de adaptación – o webinar tratou de diversos assuntos:

  • Mediterrâneo: aumento do espaço de risco > a mudança climática atual aumenta o perigo;
  • Os problemas de aquecimento climático dificilmente vão se solucionar por meio da redução da emissão;
  • Adaptação de territórios e sociedades para lidar com os efeitos previstos pelas mudanças climáticas;
  • As três peças fundamentais no processo de adaptação à mudança climática: gestão de emergências, organização do território e educação sobre o risco;
  • A escala local é uma peça importante das políticas de redução de efeitos da mudança climática.

Ao olharmos os assuntos em debate, é impossível não relacionar com a realidade do Distrito Federal (DF) e com o que abordamos em nosso pôster. No dia 4 de outubro, a temperatura no DF chegou a 36.7ºC e 9% de umidade, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O que coloca esse dia em primeiro lugar no ranking de temperaturas mais altas registradas no DF em 10 anos. As mudanças são globais e vão além do desconforto causado pelo calor.

No webinar, o professor mostra como as mudanças climáticas estão diretamente relacionadas ao impacto econômico no PIB na Europa.  Segundo ele, a pesquisa Oxford Economics aponta que temperaturas mais altas podem diminuir o PIB Global em 20% até 2100. O que mostra que o cenário é muito mais abrangente do que o esperado.

O calor não é o único efeito que está ocorrendo. O Prof. Jorge Olcina trata durante a palestra sobre o aumento de tempestades em 2019 e sobre o aumento de manifestações muito peculiares, que nos mostra o poder destruidor da natureza, como visto em diversos acontecimentos de 2020: ciclones tropicais que preocupam o EUA e o aumento do número de queimadas aqui, no Brasil.

Jorge Olcina explica, também, que o crescimento do nível dos mares é algo que está previsto como uma das principais consequências das mudanças climáticas. Nesse quesito, as costas litorâneas e, até mesmo, cidades inteiras podem ser afetadas por esse efeito. A solução não é apenas reduzir a emissão de gases, pois, segundo o professor, as políticas de contenção não são um foco dos grandes países poluentes e, por isso, a medida não é uma solução rápida ou um caminho tão prático e viável.

A dengue, tão conhecida por nós brasileiros e brasilienses, também foi citada no webinar. O calor aumenta o número de casos de uma das doenças mais perigosas e que afeta cada vez mais a vida das pessoas, pois o mosquito da dengue é o mesmo da Zika e da Chikungunya. No Distrito Federal, em 2020, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, foram registrados mais de 45 mil casos de dengue na região. O G1 realizou uma análise que mostra um aumento de 22% do número de casos em comparação com 2019.

Diversos outros assuntos foram, também, tratados no primeiro webinar do V Congresso Internacional de Riscos. Os temas são importantes para refletirmos no nosso próprio ambiente e começarmos a buscar medidas para diminuir os efeitos das mudanças climáticas.

No nosso pôster falamos sobre esse novo padrão climático e como, no DF, afeta os pequenos agricultores, os animais e as pessoas. Para conferir a reportagem – Cerrado Alerta: compreender para reagir – que deu origem ao pôster clica aqui. Se quiser ouvir os episódios que gravamos do podcast Foco no Cerrado basta apontar seu celular.

Sara Meneses é estudante do 6 semestre de Jornalismo do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).

10 verbetes – 10 conceitos para cobertura do clima

Este é o último post sobre o Minimanual para Cobertura Jornalística das Mudanças Climáticas. O primeiro falou das 10 questões fundamentais sobre a emergência climática, o segundo abordou 10 conselhos para a produção de reportagem e as fontes-referência sobre o assunto, e hoje vamos tratar dos 10 conceitos e 10 verbetes elencados no Minimanual.

Agrupei os conceitos e os verbetes em cinco blocos temáticos: Ciência, Economia & Política, Medidas & Ações, Indicadores, e Efeitos. Vamos a eles:

Ciência:

Efeito Estufa

A presença de gases de efeito estufa permite manter a uniformidade da temperatura na Terra, tornando o planeta habitável. Neste fenômeno natural, os gases prendem o calor na atmosfera.

Gases de Efeito de Estufa

Os gases principais de efeito de estufa da atmosfera do globo terrestre são:

  • vapor de água (H2O)
  • dióxido de carbono (CO2)
  • óxido nitroso (N2O)
  • metano (CH4), e
  • ozônio (O3)

CO2 Equivalente

Medida utilizada para comparar as emissões dos gases de efeito estufa a partir do potencial de aquecimento global de cada um. O potencial do gás metano é 21 vezes maior que o do gás carbônico (CO2).

  • CO2 equivalente do metano é igual a 21.

Economia e Política:

Governança Ambiental

Modo não-hierárquico de governo para formulação e implementação de políticas públicas.

Litigância Climática

Uso de instrumentos jurídicos para cobrar respostas referentes às mudanças do clima.

Unidades de Conservação

Territórios geridos pelo poder público com objetivo garantir a representatividade dos ecossistemas e das espécies protegidas.

Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei nº 12.651/2012)

Estabelece as Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Legais como instrumentos de proteção à biodiversidade obrigatórios a todos os imóveis rurais. Conhecida como Código Florestal

Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REED)

Incentivo para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito estufa

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

Permite a implementação de projetos que reduzam a emissão de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento.

Acrescento ao Minimanual o verbete ESGEnvrionmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança corporativa (ASG), numa tradução para português. Quando o verbete ESG é empregado no setor financeiro, significa uma aplicação que, para além das métricas apenas econômicas, incorpora questões ambientais, sociais e de governança.  Isto é, se a empresa tem saúde financeira e se é social e ambientalmente responsável. ESG tem peso cada vez maior no mercado de ações.

Medidas & Ações:

Mitigação

Estratégia de resposta à mudança do clima, de longo prazo, que objetiva diminuir a emissão de gases de efeito estufa e fortalecer a remoção por meio de sumidouros de carbono, como as florestas.

Adaptação

Estratégia de resposta à mudança do clima, complementar à mitigação, que busca, em um curto prazo, prevenção quanto aos possíveis riscos, assim como a exploração de eventuais oportunidades.

Descarbonização

Jargão usado no âmbito do debate do clima para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, gerado na queima de combustíveis fósseis.

Resiliência

Capacidade de os sistemas sociais, econômicos e ambientais de lidar com um evento ou situação perigosa, responder ou se reorganizar a fim de recuperar sua função essencial, estrutura e identidade.

Indicadores:

Pegada Ecológica

Ferramenta de mensuração e análise da área biologicamente produtiva necessária para manter determinada região, cidade, país ou indivíduo. Pegada Ecológica calcula a quantidade de natureza necessária para produzir os recursos demandados por uma população, bem como absorver os seus resíduos, mantendo a sua biocapacidade.

Pegada de Carbono

Também chamada de perfil de carbono, é uma avaliação que mede a quantidade de dióxido de carbono emitida em razão dos modos de vida de uma pessoa, organização, evento ou produto. Corresponde à maior parte da pegada ecológica da humanidade.

Marketing Verde (Greenwashing)

Perspectiva que incorpora, de foram enviesada, a responsabilidade socioambiental aos valores organizacionais. Nesse caso, as empresas podem (seja para acompanhar a tendência ou para auferir lucros decorrentes dessa imagem) simular uma preocupação ambiental inexistente.

Efeitos:

Desastre

Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais.

Risco

É a probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas esperadas (mortes e danos à propriedade, meios de subsistências, atividades econômicas e meio ambiente) resultante de interações entre ameaças naturais ou induzidas pelo homem e populações vulneráveis.

Vulnerabilidade

Propensão ou pré-disposição para ser afetado. A vulnerabilidade engloba uma variedade de conceitos e elementos, incluindo sensibilidade ou suscetibilidade a danos e falta de capacidade para lidar e se adaptar.

Fenômenos Meteorológicos Extremos Eventos extremos são considerados desvios de um estado climático moderado. Os principais fenômenos extremos podem ter causas naturais, mas também há registro de aumento na frequência e na intensidade como resultado das mudanças climáticas e de atividades humanas. São exemplos de fenômenos meteorológicos extremos: enchentes, chuvas torrenciais, ciclones, deslizamentos, friagens, furacões, inundações, marés meteorológicas, ondas de calor, secas, tornados, tufões, vendavais.

Para ler o Minimanual, produto dos grupos de pesquisa da UFRGS e UFSM, e organizado por Márcia Amaral, Eloísa Beling Loose e Ilza Girardi, basta clicar aqui. Os 10 verbertes – 10 conceitos estão entre as páginas 24 e 36.