Tim O’Riordan Lecture One: impressões pessoais

O novo, na primeira lecture do Prof. Tim, da University of East Anglia (UEA, United Kingdom), para mim, não foi necessariamente os conteúdos, mas a maneira como ele os articula para construir seu posicionamento como cientista e como cidadão. Como cientista, Prof. Tim se posiciona como um comunicador, um divulgador e um advocate (defensor de causas) de uma Ciência ética e próxima das pessoas. Como cidadão, escolhe a Educação para transformar e para promover a reflexão entre os pupilos sobre o tópico que o tem movido, ultimamente: a preservação da espécie humana e da vida numa sociedade mais justa e mais igualitária.

Os conteúdos que eu destaco como importantes para mim, na primeira lecture são: a Terra e o Homem e os novos ventos da Sustentabilidade como caminho para manter a coesão social e conduzir à transformação social. Sobre eles, escrevo em outros posts. Para compartilhar comigo, convidei o colega Rui Velasco do Programa Doutoral para deixar aqui no Blog Entreposto suas considerações. Ele também escreve um post sobre Sustentabilidade.

 Rui Velasco

A partir do momento em que o Prof. Tim O’Riordan se senta sobre o canto da secretária e, um a um, olha os alunos nos olhos, começamos a sentir-nos envolvidos na sua narrativa. Com uma voz pausada e um tom de inglês que remete a nossa memória para as séries documentais da BBC, com que, na nossa infância, aprendemos sobre a diversidade da Natureza, o Prof. Tim vai narrando as histórias da sua experiência sobre a relação do Homem com o Ambiente. Conduzindo-nos pelo caos da formação do Universo e do nosso planeta, percebemos a singularidade das condições físicas e químicas que sustentam a nossa existência neste pequeno ponto azul e quão facilmente as podemos desequilibrar. Os seus olhos brilham com entusiasmo juvenil, quando explica que o caminho para a procura deste equilíbrio com o Ambiente passa igualmente pela procura de relações sociais mais saudáveis e pela recuperação de valores como a ética e a virtude para ampararem uma economia mais equilibrada, mais justa, mais sustentável.  

Tim O’Riordan esteve no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa (Portugal), no dia 24 de outubro de 2014, ministrando aula para os doutorandos do Programa Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável – 6ª edição.

A Terra e Nós: conflito de poder e cooperação para sobrevivência

A primeira parte da aula do Prof. Tim O’Riordan foi um depoimento de admiração pela Terra (planeta) e um apelo, prá lá de carinhoso, para que nós da espécie homo lutemos pela preservação da vida no único terreno galáctico em que ela floresceu. Para o Prof. Tim, estamos a viver num unique place que busca constantemente um processo natural de ajustamento desde que foi concebida a 4,5 bilhões de anos. Ainda que já tenha passado por diferentes movimentos de aquecimento e esfriamento, a Terra continua a buscar o equilíbrio em si mesma e, nos dias atuais, anda a lutar em busca de sua própria sobrevivência com tanto CO2 concentrado na atmosfera. A própria Terra, diz Prof. Tim, já colocou o CO2 para fora porque era muito quente. Agora, anda de novo às voltas com ele.

Ao desenvolver o seu argumento, Prof. Tim lembra que nós, seres da espécie homo, estamos acelerando esse aquecimento de uma maneira que nem nós estamos a compreender exatamente. O que sabemos, diz ele, como certeza científica, é que “there is trouble ahead”. Esse problema, tenha o nome de aquecimento global, concentração de CO2, alterações climáticas ou mudança do clima, deve e precisa ser enfrentado. Segundo Prof. Tim, a partir de três opções: “being brittle”, “thinking serious about it” e “taking the transformation approach”.

Após discorrer sobre cada uma das opções que temos como espécie homo para enfrentar o problema, Prof. Tim interrompe a lecture e passa a interagir com os acadêmicos incitando-nos a um posicionamento. “O que vocês têm a dizer sobre o que eu lhes falei?”, pergunta ele, buscando por nossa participação. Cutuca-nos perguntando qual o nosso papel e cutuca-nos respondendo que nosso papel é o da investigação, da pesquisa e do ensino.

Eis resumidamente o que explicou Prof. Tim sobre cada uma das três opções. A primeira opção – being brittle – é ficar como está e segurar o que tem e não se mexer. Segundo ele, isso pode ser feito pelos próximos 20 ou 30 anos, no entanto, as consequências de tal opção são agressivas e rodeadas de muitos estragos e destruição. Na avaliação do Professor, é a opção mais fácil, até porque reforça em nós a nossa inabilidade para alterar coisas e mudar. A segunda opção – thinking serious about it – é a opção que busca a redução dos impactos resultantes da aceleração que estamos a imprimir na dinâmica natural da Terra (aquecimento e esfriamento). Essa opção é a que corre atrás da economia circular, da redução de 30% de carbono na atmosfera, da mudança no perfil energético (de fóssil para renovável), do consumo ético e da produção responsável. A terceira opção – taking the transformation approach – é a da transformação social para um modo de vida, baseado num novo paradigma, a partir de pequenos passos num processo de aprendizagem contínuo, até um novo modelo de sociedade surgir. Sobre a terceira opção, Prof. Tim disse que vai aprofundar suas ideias na Lecture Two que ministrará na próxima semana.