Durante os três dias de treinamento para liderança climática pelo Climate Reality Project, entre 28-30 de agosto 2018, em Los Angeles, CA), participamos de sessões e painéis que discutiram como ser mais efetivo ao falar sobre mudança do clima em pequenos grupos e pessoalmente, âmbito da comunicação interpessoal. Compartilho o resumo que fiz sobre o que ouvimos e conversamos durante o treinamento.
Duas estratégias são necessárias para tornar o assunto clima e pessoas mais efetivo de modo a resultar em ação tanto individual quanto coletiva por parte dos envolvidos na conversa. A primeira é ser específico e a segunda é ser positivo.
A estratégia de ser específico é falar e conversar sobre um tópico singular que envolva o clima, pois o big picture (imagem) sobre mudanças climáticas é distante, muito científico e pouco reflete aspectos da vida do cidadão médio, morador da cidade. A estratégia do ser positivo é conduzir a conversa para as soluções que reduzem e travam emissões de carbono, sejam elas novas práticas de agricultura ou novas tecnologias para energia renovável.
Ser específico e positivo na comunicação abre um leque de possibilidades de ações individuais (escolhas sobre o que comer, vestir, como se locomover) e de ações coletivas (escolha de representantes políticos e pessoas públicas e apoio a políticas de reciclagem, logística reversa, energia, educação ambiental e uso de recursos naturais).
Cinco dicas ajudam a aproximar as pessoas do assunto mudanças climáticas: tornar pessoal, localizar, enfatizar a ação, eliminar a complexidade e evitar pânico e medo.
A primeira dica é tornar o assunto pessoal, ajudando a quebrar barreiras comunicacionais. Conversar e falar sobre a percepção que as pessoas estão tendo sobre a variação de temperatura, os eventos extremos, as estações do ano, o calor ou o frio mais intenso, os problemas causados pelas inundações, os desastres ambientais que estão por toda parte nos noticiários, e sobre consumo consciente ajuda a reavivar a memória de que o assunto está próximo. Há então uma experiência pessoal ou familiar relacionada com a questão do clima que pode ser compartilhada.
A segunda dica é localizar. Falar das medidas e das ações locais que estão sendo implementadas e seus resultados aproxima as pessoas e tornam as questões sobre mudanças climáticas mais tangíveis. Políticas e medidas como teto solar, novas práticas para agricultura, construção mais sustentável, gestão de resíduo sólido, reflorestamento, horta comunitária, e reutilização de materiais, por exemplo, devem ser abordadas sob o olhar do cidadão e dos benefícios que ele pode obter.
A terceira dica diz respeito à proatividade. Ao comunicar sobre mudanças climáticas, enfatizar a ação que o cidadão pode tomar do ponto de vista individual e coletivo é crucial. A participação nas questões locais que afetam o clima ajuda o cidadão a perceber que o problema global está bem perto dele e que ele tem poder para modificar a situação (imagem). Seja porque modifica condições em sua própria habitação (economia de luz e água) e hábitos de consumo e compra seja porque apoia os líderes de seus bairros ou comunidades na busca de soluções para a poluição, para a melhoria do transporte público (ônibus elétrico, por exemplo), e para a preservação de parques e nascentes, dentre outras medidas.
A quarta dica é eliminar a complexidade. Mudanças climáticas é um fenômeno abstrato de alto grau de complexidade. Reduzir o volume das explicações científicas e concentrar esforços da simplicidade facilita a comunicação. Falar sobre a concentração de carbono e a transição da estrutura energética de combustível fóssil para energia renovável ou limpa é mais palatável para o cidadão médio que vive nas cidades do que cenários climáticos e contribuições voluntárias para o Acordo de Paris.
A quinta dica é evitar pânico e medo. Esses duas emoções podem parecer que ajudam a comunicar mudanças climáticas mas, na verdade, elas são sinônimos de silêncio, afastamento e desinteresse. O peso e a opressão, que as pessoas, de modo geral, sentem quando se fala nas causas e nos impactos devastadores das mudanças climáticas, podem levam à apatia e à inatividade. Cultivar a esperança, apontando e exemplificando as soluções para a crise climática motiva as pessoas a agirem e a tomarem medidas amigas do clima, ainda que não possuam conhecimento científico mais apurado sobre a questão.
Ao criar um canal de comunicação em forma de jogo de tabuleiro como parte de minha tese de doutorado, conversei com muitos e testei o jogo Aventura Climática© com participantes diversos. Uma das conclusões a que cheguei é que as pessoas estão interessadas no que elas podem fazer, nas ações que podem realizar e nas soluções que se aplicam ao problema da crise climática. Ainda que o problema seja global e uma ação mundial de contenção de emissões de CO2 seja necessária para travar e reduzir a concentração de carbono na atmosfera, agir localmente e apostar em soluções é a tendência atual.