Viagem de Estudo ao Norte de Portugal: Clima e Sustentabilidade

Durante dois dias estivemos em viagem de estudo ao Norte de Portugal, mais precisamente às cidades de Covilhã, Peso da Régua e Vila Real (17 e 18 de maio 2019). Juntei-me aos colegas da 10a. edição e aos professores do programa doutoral em Alterações Climáticas e Política de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Lisboa e Nova de Lisboa para conhecer de perto práticas sustentáveis de produção de blocos para a construção civil, a fabricação artesanal de queijo de ovelha e o manejo das vinhas frente aos impactos das mudanças no clima.

Em Covilhã, estivemos na Universidade da Beira Interior (UBI) e conhecemos o processo de fabrico e teste de blocos para construção (eCO2blocks – eCO2cement) que são feitos com resíduos no Laboratório da Engenharia (C MADE). Os avanços na produção de blocos para construção foram explicados pelo Prof. João Castro Gomes (foto de terno escuro) que enfatizou o uso de resíduos industriais, a absorção de dióxido de carbono e a dispensa no uso de água para sua produção, em comparação ao cimento Portland. O laboratório funciona no prédio parcialmente restaurado da antiga fábrica de lã. Desde o século XII, Covilhã foi o centro da indústria têxtil e da Rota da Lã em Portugal.

Entre Covilhã e a nossa próxima parada, cruzamos o Parque Natural da Serra da Estrela, passamos pelo ponto mais alto a 1.993 metros (6.539 pés) e observamos os vestígios de glaciação.

No caminho, paramos para ver a escultura em rocha granítica de sete metros de altura da Nossa Senhora da Boa Estrela, a padroeira dos pastores, inaugurada em 1946. A escultura localizada no Covão do Boi foi uma encomenda a Antônio Duarte, pai do Prof. Filipe D. Santos, diretor do Programa. “Muitos verões foram passados aqui”, comentou Prof. Filipe. Ainda hoje as festividades para celebrar a fé e a proteção aos pastores são realizadas no segundo domingo de agosto.

Chegamos a Seia e fomos ver de perto o fabrico artesanal de queijo de ovelha, onde a renomada empreendedora familiar – Maria Natália Simão – produz queijo de modo artesanal e o marido pastoreia as ovelhas na Serra da Estrela por dois meses no verão à modo antiga.

De Seia, seguimos viagem para Peso da Régua, para conhecer o manejo das vinhas frente aos desafios das Alterações Climáticas pelo empreendimento privado da família Symington.

Fomos recebidos na mais antiga propriedade – a Quinta do Bonfim, uma das 26 quintas da família no Alto Douro, região que é Patrimônio Mundial da Unesco.

Viagem de Estudo: hora do queijo da Estrela

Ouvir Maria Natália Lopes contar que desde que estava na barriga da mãe já fazia queijos, foi um encontro humano surpreendente. Natália vive na cidade de Seia ao Norte de Portugal com a família: marido e dois filhos. Sua mãe já fazia queijos.

O marido pastorea ovelhas à moda antiga, levando o rebanho para os pastos verdes no alto da Serra da Estrela por dois meses no verão. No dia-a-dia, inicia a lida por volta das 5 da manhã para ter leite fresco para a produção de queijo com certificado e selo da Serra da Estrela.  O empreendimento familiar é  referencia e premiado (foto: Natália e a galeria dos troféus).

Os filhos ajudam na comercialização, mas “não vendemos para supermercado”, enfatiza Natália durante sua demonstração de como preparar queijo de ovelha artesanal. A venda direta aos clientes enche de orgulho a queijeira Natália. “O que me deixa satisfeita é quando o cliente volta aqui ou liga dizendo que o meu, sim, é o verdadeiro queijo da Estrela”.

Esse sorriso se desfaz quando Natália começa a contar que o serviço de pastoreio, criação de ovelhas e fabricação artesanal de queijos está a desvanecer. “Não há quem queira trabalhar nisso”, diz ela com tristeza na voz e uma resignação disfarçada. “Não há pessoas que queiram aprender, estamos sem pastores”, completa.

Há 30 anos as mãos de Natália fazem queijo. Primeiro numa casa de pedra, numa quinta em que não havia luz elétrica. “Só fazíamos pouco queijo”, enfatizando que a tecnologia e os novos materiais vieram facilitar a higiene e o processo de fabrico. De seus tempos de menina ainda lembra que por conta do inverno com muita neve vivia em dois sitios: Santiago e Sabugueiro. “Andávamos com as tralhas às costas”, relembrando o quão duro era.

Natalia na prensa de queijos

Com orgulho, a quejeira Natália demonstrou a professores e alunos em viagem de estudo o manuseio do leite, como usar a forma e a prensa e como acondicionar na câmara fria os queijos produzidos. São de 30 a 35 dias para que o queijo esteja pronto para comercialização. Durante esse tempo de cura é preciso virar o queijo de oito em oito dias.

Para conhecer mais:

Quinta do Sarrodelo
Rua da Escola, Santiago
Seia, Portugal
238 313 187 e 963 923 802