10 verbetes – 10 conceitos para cobertura do clima

Este é o último post sobre o Minimanual para Cobertura Jornalística das Mudanças Climáticas. O primeiro falou das 10 questões fundamentais sobre a emergência climática, o segundo abordou 10 conselhos para a produção de reportagem e as fontes-referência sobre o assunto, e hoje vamos tratar dos 10 conceitos e 10 verbetes elencados no Minimanual.

Agrupei os conceitos e os verbetes em cinco blocos temáticos: Ciência, Economia & Política, Medidas & Ações, Indicadores, e Efeitos. Vamos a eles:

Ciência:

Efeito Estufa

A presença de gases de efeito estufa permite manter a uniformidade da temperatura na Terra, tornando o planeta habitável. Neste fenômeno natural, os gases prendem o calor na atmosfera.

Gases de Efeito de Estufa

Os gases principais de efeito de estufa da atmosfera do globo terrestre são:

  • vapor de água (H2O)
  • dióxido de carbono (CO2)
  • óxido nitroso (N2O)
  • metano (CH4), e
  • ozônio (O3)

CO2 Equivalente

Medida utilizada para comparar as emissões dos gases de efeito estufa a partir do potencial de aquecimento global de cada um. O potencial do gás metano é 21 vezes maior que o do gás carbônico (CO2).

  • CO2 equivalente do metano é igual a 21.

Economia e Política:

Governança Ambiental

Modo não-hierárquico de governo para formulação e implementação de políticas públicas.

Litigância Climática

Uso de instrumentos jurídicos para cobrar respostas referentes às mudanças do clima.

Unidades de Conservação

Territórios geridos pelo poder público com objetivo garantir a representatividade dos ecossistemas e das espécies protegidas.

Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei nº 12.651/2012)

Estabelece as Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Legais como instrumentos de proteção à biodiversidade obrigatórios a todos os imóveis rurais. Conhecida como Código Florestal

Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REED)

Incentivo para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases de efeito estufa

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

Permite a implementação de projetos que reduzam a emissão de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento.

Acrescento ao Minimanual o verbete ESGEnvrionmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança corporativa (ASG), numa tradução para português. Quando o verbete ESG é empregado no setor financeiro, significa uma aplicação que, para além das métricas apenas econômicas, incorpora questões ambientais, sociais e de governança.  Isto é, se a empresa tem saúde financeira e se é social e ambientalmente responsável. ESG tem peso cada vez maior no mercado de ações.

Medidas & Ações:

Mitigação

Estratégia de resposta à mudança do clima, de longo prazo, que objetiva diminuir a emissão de gases de efeito estufa e fortalecer a remoção por meio de sumidouros de carbono, como as florestas.

Adaptação

Estratégia de resposta à mudança do clima, complementar à mitigação, que busca, em um curto prazo, prevenção quanto aos possíveis riscos, assim como a exploração de eventuais oportunidades.

Descarbonização

Jargão usado no âmbito do debate do clima para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, gerado na queima de combustíveis fósseis.

Resiliência

Capacidade de os sistemas sociais, econômicos e ambientais de lidar com um evento ou situação perigosa, responder ou se reorganizar a fim de recuperar sua função essencial, estrutura e identidade.

Indicadores:

Pegada Ecológica

Ferramenta de mensuração e análise da área biologicamente produtiva necessária para manter determinada região, cidade, país ou indivíduo. Pegada Ecológica calcula a quantidade de natureza necessária para produzir os recursos demandados por uma população, bem como absorver os seus resíduos, mantendo a sua biocapacidade.

Pegada de Carbono

Também chamada de perfil de carbono, é uma avaliação que mede a quantidade de dióxido de carbono emitida em razão dos modos de vida de uma pessoa, organização, evento ou produto. Corresponde à maior parte da pegada ecológica da humanidade.

Marketing Verde (Greenwashing)

Perspectiva que incorpora, de foram enviesada, a responsabilidade socioambiental aos valores organizacionais. Nesse caso, as empresas podem (seja para acompanhar a tendência ou para auferir lucros decorrentes dessa imagem) simular uma preocupação ambiental inexistente.

Efeitos:

Desastre

Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais.

Risco

É a probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas esperadas (mortes e danos à propriedade, meios de subsistências, atividades econômicas e meio ambiente) resultante de interações entre ameaças naturais ou induzidas pelo homem e populações vulneráveis.

Vulnerabilidade

Propensão ou pré-disposição para ser afetado. A vulnerabilidade engloba uma variedade de conceitos e elementos, incluindo sensibilidade ou suscetibilidade a danos e falta de capacidade para lidar e se adaptar.

Fenômenos Meteorológicos Extremos Eventos extremos são considerados desvios de um estado climático moderado. Os principais fenômenos extremos podem ter causas naturais, mas também há registro de aumento na frequência e na intensidade como resultado das mudanças climáticas e de atividades humanas. São exemplos de fenômenos meteorológicos extremos: enchentes, chuvas torrenciais, ciclones, deslizamentos, friagens, furacões, inundações, marés meteorológicas, ondas de calor, secas, tornados, tufões, vendavais.

Para ler o Minimanual, produto dos grupos de pesquisa da UFRGS e UFSM, e organizado por Márcia Amaral, Eloísa Beling Loose e Ilza Girardi, basta clicar aqui. Os 10 verbertes – 10 conceitos estão entre as páginas 24 e 36.

Cobertura Climática – minimanual para jornalistas

Ampliar a cobertura climática e incentivar estudantes de Jornalismo a conhecerem sobre o assunto e produzirem pautas são os objetivos do “Minimanual para cobertura jornalística de mudanças climáticas”, iniciativa de grupos de pesquisa de universidades públicas lá do Rio Grande do Sul, e lançado hoje (31 de agosto de 2020) em live pela página do Observatório do Clima no Facebook.

A live contou com a participação da jornalista Sonia Bridi que comentou ser este seu assunto favorito. Sonia afirmou que o tema da emergência climática “é definidor de nosso futuro” e que, por isso, como jornalista, entende ser responsabilidade da imprensa explicar o assunto “para que as pessoas tomem suas decisões”. Sonia é autora do prefácio do Minimanual e comentou que a publicação é uma maneira de as universidades com cursos de Jornalismo se envolverem mais de perto com a temática.

Além de Sonia Bridi, participaram da live Eloisa Beling Loose, uma das organizadoras do Minimanual, em conjunto com as pesquisadoras Márcia Amaral e Ilza Girardi, e os cientistas Andrea Santos e Alexandre Costa, ambos do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). A professora Eloisa ressaltou que o projeto coletivo quer impactar a cobertura trazendo a pauta climática para o cotidiano. Para Eloisa, o minimanual facilita o conhecimento dos aspectos científicos por parte dos estudantes de Jornalismo, uma vez que mudanças climáticas é um tema complexo.

A professora Andréa Santos da Coppe/UFRJ começou sua fala lamentando que o Brasil esteja “virando chacota do mundo” depois de ser um protagonista de peso no cenário internacional de políticas para as mudanças climáticas. Andréa mencionou a recente pesquisa Earth Day 2020, que aponta que sete em cada 10 brasileiros acreditam que as alterações climáticas são tão grave quanto a pandemia da covid-19. Andréa também comentou que o desafio da cobertura climática é relacionar o assunto com o dia a  dia das pessoas, enfatizando que as soluções existem e que é preciso promover a transição para a economia de baixo carbono.

Convidado a fazer parte da live pelo mediador Cláudio Ângelo, que o viu na platéia virtual, o professor de Ciência Atmosférica Alexandre Costa enfatizou a necessidade de falar de “ciência como um ato de rebeldia” até porque o assunto mudanças climáticas causa “o comprometimento do suporte à vida”. O cientista Alexandre, que é blogueiro e youtuber, comentou também a necessidade de se pensar numa nova dieta alimentar, com base na agroecologia, e também em práticas de pecuária que sequestrem carbono ao invés de emitirem carbono como é a que se vê, de modo geral, no Brasil.

Andréa e Alexandre ressaltaram os perigos do aquecimento para a sobrevivência das espécies e da perspectiva de se chegar a 2030 com 1,5°C. O professor Alexandre lembrou do termo “impossível de sobreviver (unsurvivable storm)” com que o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) classificou o furacão Laura. Para Alexandre, o “tom das mensagens” salvou vidas, pois é de verdade um caos climático, uma emergência climática.