Mutação no tecido social: o caminho possível

Dias atrás escrevemos sobre a palestra que a ambientalista Marina Silva proferiu no UniCEUB durante o X Congresso Científico. Na palestra, falando sobre como a civilização poderá modificar a forma de consumir e produzir, Marina disse que a mudança não se dará por rupturas e que também não é possível uma transição demorada.

Ela entende que a saída para a crise civilizatória que estamos vivendo é a mutação no tecido social. Ou seja, pessoas (cidades, instituições, empresas) que estão se deslocando para o novo eixo (desenvolvimento sustentável) acabam criando pressão e transformações na maneira com se lida e se gerencia recursos naturais, criando um efeito expansionista, pois há uma busca por mais sustentabilidade por parte de muitos. Marina, em seu argumento, explica que as pessoas no mundo estão vivendo um momento de desadaptação criativa no qual buscam usar da inteligência para superar as circunstâncias irreversíveis que encontram pela frente no modo de viver suas vidas cotidianas.

Essas idéias e argumentos de Marina Silva não são novos, mas o brilhantismo delas é se tornarem fundamentos na hora de articular o discurso diante de professores, alunos e comunidade científica. Marina Silva, desde que se apresentou como uma terceira via nas eleições de 2010, vem fazendo palestras em todo o país e nas mais diversas universidades. E em muitos desses espaços aborda esses mesmos temas elencados na palestra do UniCEUB. Há uma substância de Educação Ambiental em seus discursos, afinal Marina Silva é professora de formação.

O discurso e a prática: coerência faz a diferença

Hoje pela manhã estive presente à palestra que a ambientalista Marina Silva proferiu no UniCEUB com o tema A construção de um novo paradigma de desenvolvimento no século 21. Não podia ter sido mais impactante seja pelo alerta, seja para capacidade argumentativa, seja pela simplicidade e pela narrativa. Uma aluna, ao terminar a palestra, me olhou e expressou silenciosamente: ual!, que foi isso!

Isso foi a palestra de mais de uma hora, de pura atenção concentrada, em que Marina Silva diz com todas as letras que precisamos resignificar a nossa existência como humanos orientando nossas vidas para sermos algo e não para termos algo. E que o país precisa de uma visão, de um Plano, para que se torne uma potência ambiental e possa direcionar suas ações para a sustentabilidade.

Um discurso voltado para o chamamento interno de que o ter é importante mas não o exagero; que a palavra de ordem será parcimônia para os tempos difícies que virão por conta das mudanças climáticas. Exemplificando, Marina disse que um chinês come cerca de 200 quilos de grãos/ano e que os nós e os americanos comemos 800 quilos/ano incluidos aí os grãos que alimentam as vacas e as galinhas que comemos. No mundo há cerca de 2 bilhões de seres humanos que vivem com menos de 2 dolares/dia. Isto não é pobreza ou miséria. Isso é fome! E o demais é desperdício.

Marina falou de valores éticos o tempo todo. Falou da necessidade de Política com P maiúsculo. Mostrou que a falta de ética da substentabilidade permite decisões voltadas para o lucro e não voltadas para o desenvolvimento sustentável, que busca o equilíbrio em três dimensões (social, econômica e ecológica). Exemplificou contando que quando esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente ficou conhecida pelo apelido de ministra dos bagres porque não autorizou a construção de uma barreira de contenção de sedimentos para a turbina da hidrelétrica no rio Madeira pois havia tecnologia que permitia a construção de outro tipo de contenção que não alteraria ou modificaria o ciclo de reprodução dos peixes (bagres). Segundo ela, depois que saiu do Ministério o governo autorizou a obra lucrativa e os bagres hoje estão sofrendo e junto com eles o homem ribeirinho e as comunidades da região.

Marina Silva trouxe como argumento central o conceito de desadaptação criativa. E essa reflexão vai ficar para o próximo post. Marina Silva é ambientalista, ex-senadora, ex-candidata à Presidência da República em 2010.