10 questões para a cobertura climática: minimanual para jornalistas

O Minimanual para a Cobertura Jornalística das Mudanças Climáticas, produto dos grupos de pesquisa da UFRGS e UFSM, e organizado por Márcia Amaral, Eloísa Beling Loose e Ilza Girardi, trata de fornecer a estudantes e profissionais do Jornalismo uma ferramenta para desenvolver pautas sobre o clima e a emergência climática. O Minimanual traz tudo em 10.

  • dez conselhos
  • dez verbetes
  • dez conceitos
  • dez questões
  • dez fontes

Neste post, vou tratar das dez questões fundamentais para pensarmos nossa realidade. Da página 38 à página 45, cada uma das questões está acompanhada de referência científica para compreensão complementar do assunto.

Quais são as 10 questões ressaltadas pelo minimanual?

CLIMA E AMAZÔNIA: A Amazônia tem a função de reguladora do clima global, regional e local.

A vegetação florestal controla uma série de processos físico-químicos que influenciam a taxa de formação de nuvens, a quantidade da concentração de vapor de água, o balanço de radiação de energia, a emissão de gases biogênicos e de efeito estufa, entre tantas outras propriedades.

CLIMA E POVOS TRADICIONAIS: Os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos, entre outros, se relacionam com a terra de modo distinto.

[…] em geral estes povos vivem uma situação delicada: ao mesmo tempo em que se constituem como importantes agentes de conservação da diversidade natural e cultural, são os primeiros afetados pelas mudanças do clima […]

CLIMA E SAÚDE: Alterações nos ecossistemas podem gerar o aparecimento de novas doenças e alterar a incidência das já conhecidas.

[…] evidências sugerem que a variabilidade climática tem apresentado influência direta sobre a biologia e a ecologia de vetores e, consequentemente, sobre o risco de transmissão de doenças como dengue, malária e febre amarela.

CLIMA E SEGURANÇA ALIMENTAR: Migração de culturas e de pessoas vão acontecer em decorrência das alterações climáticas.

Em um Brasil mais quente, 95% das perdas ocorrem em razão de inundações ou secas. Tais eventos serão cada vez mais frequentes, com perdas de 5 a 6 bilhões de reais ao ano até 2025.

CLIMA E AGROPECUÁRIA: As emissões da agropecuária aumentarão em 30% até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU).

A maioria das emissões da agropecuária é composta pelo metano que vem da fermentação entérica e dos dejetos da pecuária bovina e do cultivo de arroz, além do óxido nitroso que vem do uso de fertilizantes. […] A pecuária desenvolvida na região amazônica, por exemplo, segue um modelo baseado em desmatamento, pouca tecnologia e baixa produtividade.

CLIMA E ZONAS COSTEIRAS: As alterações no clima trazem riscos para as cidades, para as pessoas e também para sistemas naturais como manguezais e restingas.

As cidades brasileiras situadas em zonas costeiras são mais vulneráveis às mudanças climáticas, em especial ao aumento do nível do mar, mas também a eventos como fortes chuvas, tempestades, inundações e erosão costeira, que geram destruição e impactos à infraestrutura desses municípios.

CLIMA E SEGURANÇA HÍDRICA: O abastecimento de água se torna vulnerável com a mudança nos regimes das chuvas.

[…] é inegável que o aquecimento do continente e dos oceanos adjacentes foi um dos fatores que tornaram o impacto da seca meteorológica ainda mais intenso, ao acentuar as perdas por evaporação em função da mais elevada temperatura da superfície devido ao aquecimento global.

CLIMA E SEGURANÇA ENERGÉTICA: O regime de chuvas pode, também, fragilizar o funcionamento das hidrelétricas, principal fonte de geração de energia brasileira.

A busca pela diversificação das fontes renováveis de energia está alinhada com os compromissos do Acordo de Paris de descarbonização dos sistemas de energia, e das projeções de diminuição do potencial de geração hidrelétrica na Amazônia brasileira.

CLIMA E CIDADES: Os municípios são o local para o combate aos riscos climáticos. E a população tem um papel crucial de participação decisória.

Enchentes e deslizamentos agravados por chuvas intensas acumuladas, por exemplo, tornam-se desastres frequentes no País quando encontram regiões de moradias frágeis.

CLIMA E PERSPECTIVA SOCIAL: As ciências sociais e humanas têm espaço amplo para contribuir com as políticas públicas ao lado das ciências naturais e da projeção por modelos climáticos.

No Brasil ainda temos um déficit de pesquisas sobre os aspectos sociais, culturais e políticos atrelados às mudanças do clima.

Para conhecer mais sobre o minimanual e para saber como foi a live do lançamento, veja a íntegra na página do Observatório do Clima. Os demais dez conselhos, verbetes, conceitos e fontes tratados no minimanual serão tema de futuras postagens.

Acordo e Mobilização: COP21 em Paris é um marco

cop21 label miniEdição Blog Entreposto
Reportagem: Cristina Dalla Torre, Elisa Calliari, Paulo Lima e Roberto Barbiero da Agência Jovem de Notícias
Tradução: Juliana Winkel

A COP21 chegou ao fim com acordo político e mobilização por diversos cantos do planeta no dia 12 de dezembro de 2015. É um marco histórico que altera como vamos interagir com o Planeta que busca um novo equilíbrio atmosférico. O caminho para sociedades carbono neutro é mesmo agora uma rota de viagem que vai dominar o século XXI. Um conjunto de forças existe que permite contrabalançar a força do poder dos combustíveis fósseis. Dentre elas, a sociedade civil organizada que luta por um futuro mais justo, equilibrado e respeitoso com o Planeta em que vivemos.

A data de 12 de dezembro é decisiva: os negociadores chegaram a um “acordo ambicioso e equilibrado, justo e dinâmico, que será juridicamente vinculante”, segundo Laurent Fabius, presidente da Conferência do Clima (COP21).

O documento do acordo entrará em vigor a partir de 2020 e chamará à ação os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Foram 186 países a apresentarem propostas voluntárias para a redução de emissões, que serão revistas e atualizadas de cinco em cinco anos, na busca de metas mais progressistas.

Seremos julgados por um texto, não por uma palavra, não pelo trabalho de um dia, mas por um acordo que valerá por um século
Presidente da França, François Hollande

As 31 páginas do acordo sinalizam o delicado equilíbrio alcançado entre os interesses e as propostas das nações presentes à COP21. O longo preâmbulo reúne importantes considerações de princípios, como a prioridade em garantir a segurança alimentar e a luta contra a fome, o respeito aos direitos humanos e aos direitos dos povos indígenas e comunidades locais, migrantes, crianças e pessoas com deficiência, bem como a igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres e a equidade entre gerações.

O ponto chave são as formas de combate ao aquecimento global e, em seguida, a aplicação das políticas de mitigação. Nesse caso, não há referências específicas, no acordo geral, nem em relação aos percentuais de redução, nem em relação aos prazos em que devem ser realizados os compromissos, a não ser o objetivo geral de “metade do século” dentro do qual se deve chegar à estabilização.

Os esforços são no sentido de limitar o aumento da temperatura “bem abaixo dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais” Paris COP 21 Eiffel Tower e fazer “esforços para limitar o aumento a 1,5°C”, reconhecendo que isso reduz significativamente riscos e impactos. Trata-se de um compromisso em relação ao pedido dos países mais vulneráveis e dos representantes da sociedade civil de inserir o limite de 1,5°C (Foto: ibtimes.co.uk).

Mas, quais foram os pontos de mais debate?

Financiamento: o acordo prevê que as ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas sejam financiadas através de fundos disponibilizados pelos Estados desenvolvidos. Deve-se partir de um valor mínimo de US$100 bilhões por ano – e, por si só uma afirmação bastante ambiciosa, considerando que no momento o fundo soma apenas US$10,5 bilhões. Contudo, o documento não deixa claro a partir de que ano os fundos devem ser pagos. A questão chave está na capacidade de se transferir o financiamento dos subsídios dos combustíveis fósseis, que, em conjunto, somam mais de US$470 bilhões por ano.

Perdas & Danos: uma das questões mais controversas durante as duas semanas de negociações foi o tema “Loss & Damage” (L&D), em relação às perdas e danos que ocorrem nos países mais vulneráveis. As pequenas ilhas em via de desenvolvimento voltam para casa com uma vitória importante. O artigo 8 do acordo é inteiramente dedicado à questão, embora não haja nenhuma referência à criação de um mecanismo ad hoc para gerir o fenômeno dos migrantes climáticos. Além disso, na decisão, especifica-se que este último não poderá ser usado como base jurídica por parte dos países do mundo em desenvolvimento para validar pedidos de indenização por danos causados pelas alterações climáticas.