Por Rui Velasco (*)
Apesar da tranquilidade da sua voz, uma palavra perpassa todo o discurso do Prof. Tim O’Riordan: Urgência. A ampla base de conhecimento que a ciência tem conseguido reunir ao longo dos últimos anos, e que os relatórios do IPCC têm vindo a sintetizar, aponta para a necessidade de as sociedades humanas se conseguirem transformar rapidamente (durante a próxima década), de forma a procurar mitigar o impacto das acções antrópicas sobre o nosso planeta. Quanto menos conseguirmos efectuar essa transformação, maior será a factura a pagar, futuramente, em esforços para lidar com as consequências da adaptação.
Neste contexto de urgência, o Prof. Tim reserva um papel especial para os cientistas da sustentabilidade. Uma função central na criação de valor social e na articulação de diálogo e esforços entre entre populações com diferentes níveis de riqueza, diferentes perspectivas sociais, diferentes problemas de sustentabilidade. De acordo com a sua perspectiva, se a actual desigualdade se tornar endémica, é possível que as populações adoptem uma atitude de indiferença, com uma mentalidade de consumo orientada unicamente para o presente e sem qualquer preocupação com a sustentabilidade do seu comportamento. Para combater este cenário é necessário uma mudança no papel social do cientista da sustentabilidade, vestindo o fato de diplomata, de advogado, de comunicador e assumindo um maior envolvimento nas questões de debate social.
A intervenção da ciência passará assim, em grande medida, por conseguir demonstrar que a sustentabilidade terá que ser parte integrante de uma nova ordem mundial que funcione melhor do que a actual. Neste sentido, é importante que se verifique uma actuação da ciência a três níveis:
- Como despertador de consciências, apresentando informação credível e inteligível que não possa ser ignorada pelas populações;
- Como criadora da ligação entre comportamentos sociais e virtude, numa lógica de promoção da responsabilidade mútua e para com as gerações futuras;
- Como disponibilizadora de opções credíveis para o consumo sustentável de energia, água e comida.
É um desafio imenso este que o Prof. Tim levanta, num Sábado de manhã, perante uma sala de jovens cientistas. No entanto, com a experiência de quem já percorreu o mundo a transmitir a sua esperança de futuro para a humanidade, ele relembra-nos que em muitas outras aulas, em muitas outras Universidades, a ciência da sustentabilidade continua a florescer e a promover uma nova sociedade que saiba cuidar de si e das gerações futuras. E nesse momento, cada um de nós se sente capaz de mudar o mundo para melhor…
* Rui Velasco é Geógrafo e meu colega no Programa Doutoral de Alterações Climáticas.