Loss and Damage: inclusão no texto da COP21 e dúvida sobre a extensão

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Reportagem Agência Jovem de Notícias
Por Gabriele Missouri da | Foto: Philip A. McDaniel

Estamos a dois dias da final da COP21. Ministros e chefes de delegações de vários países adotaram o texto provisório elaborado durante a primeira semana como base para as negociações de alto nível. Um dos artigos mais debatidos no projeto provisório foi o Loss and Damage (Perdas e Danos Climáticos). A ideia do Loss and Damage é que a mudança climática já está causando e certamente continuará a causar sérios danos, e por isso é preciso um acordo internacional para enfrentá-los. A discussão agora é onde e como incluir o assunto no texto de Paris.

Indian Ocean (Jan. 2, 2005) A village near the coast of Sumatra lays in ruin after the Tsunami that struck South East Asia.  U.S. Navy photo by Photographer's Mate 2nd Class Philip A. McDaniel

Indian Ocean (Jan. 2, 2005) A village near the coast of Sumatra lays in ruin after the Tsunami that struck South East Asia. U.S. Navy photo by Photographer’s Mate 2nd Class Philip A. McDaniel

Ao lidar com o problema, os chamados países em desenvolvimento baseiam-se no conceito de responsabilidade histórica. As emissões cumulativas dos países industrializados, desde o início da era industrial até hoje, são maiores do que as de todos os outros países, e os primeiros são, portanto, responsáveis pela maior parte da mudança climática.

O Loss and Damage é, portanto, um componente essencial para que se obtenha um acordo justo. No outro extremo, muitos países industrializados vêem o Loss and Damage como uma forma adicional, e muito cara, de financiamento climático.

No contexto da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC), o Loss and Damage foi formalizado na COP19, em Varsóvia, onde os vários países aprovaram a criação de um mecanismo para lidar com o assunto. O mecanismo aprovado em Varsóvia está em fase de implantação e alguns países industrializados consideram isto suficiente, exigindo, dessa forma, que não seja incluído o Loss and Damage também no texto da COP21.

Negociação passo a passo – O texto provisório sobre o qual começaram as negociações em Paris incluía duas opções. A primeira, apoiada pelos países em desenvolvimento, compreendia um artigo (Artigo 5) dedicado exclusivamente ao Loss and Damage. O segundo, preferido pelos países desenvolvidos, removia completamente o Artigo 5. Deve-se notar que, até agora, o Loss and Damage, foi sempre incluído nas negociações sobre adaptação, sem ser considerado um elemento independente. É, portanto, claro que a inclusão de um artigo dedicado exclusivamente ao Loss and Damage fortaleceria a própria importância da questão em relação ao passado. Além disso, o mecanismo de Varsóvia poderia, teoricamente, não ser renovado em COPs futuras, enquanto um artigo no texto de Paris garantiria um compromisso duradouro.

Durante a primeira semana de negociações, as posições sobre a questão mantiveram-se praticamente inalteradas. Porém, algo finalmente mudou e começaram a circular rumores de negociações informais entre os Estados Unidos e os países em desenvolvimento. De acordo com esses rumores, os Estados Unidos teriam concordado em incluir uma referência ao Loss and Damage no texto, embora não como um artigo separado.

Depois de várias discussões, graças também às propostas de mediação feita pelos facilitadores das Nações Unidas, a versão mais recente do texto prevê duas opções a seguir. A primeira inclui uma versão abreviada do artigo 5º (passando de 6 para 4 parágrafos), promovendo, assim, o Loss and Damage. A segunda prevê a inclusão do mesmo texto da primeira versão, mas inserindo-o no artigo sobre Adaptação.

Para saber qual das duas abordagens irá prevalecer no texto final, será preciso esperar o fim das negociações de alto nível desta semana. No entanto, em ambos os casos, o Loss and Damage estará presente no texto de Paris. A garantia de um compromisso de longo prazo sobre a questão, solicitado com firmeza por vários países, será, portanto, respeitado.

COP21: Onde buscar dinheiro para financiar as ações climáticas?

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Reportagem e Imagem Agência Jovem de Notícias
Por Cristina Dalla Torre

Como financiar as ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas é uma das questões que está enlouquecendo os negociadores aqui na COP21: faz com que estejam sentados às mesas de negociações até tarde… e, por vezes, as discussões continuam enquanto andam pelos corredores… no banheiro… no bar… no metrô, voltando para Paris. No momento, existe um Fundo Verde para o Clima das Nações Unidas, o Green Climate Fund, no qual o dinheiro nunca é suficiente; e, no momento, continua a não ser suficiente. É uma espécie de crowdfunding dentro do qual os países desenvolvidos, e também empresas privadas, são gentilmente convidados a deixar uma gorjeta de seu orçamento.finance-cc-action

Normalmente eles colocam 0,00000000000000000000000001% em relação ao dinheiro jogado no buraco negro da defesa e da compra de armas, ou para financiar as operações de exploração de petróleo e construção de usinas de carvão. Quando o Fundo foi criado na COP de Cancún, em 2010, havia uma grande expectativa em se chegar a 100 bilhões de dólares em 2020. Em maio de 2015, o Fundo atingiu o montante de 10 mil milhões e meio de dólares, ou pouco mais de um dólar por cabeça, considerando que nós somos 7 bilhões de pessoas no planeta.

Mas como fazer sair o dinheiro dos financiamentos a fontes fósseis em direção a projetos de mitigação de emissões criadas justamente pelo uso de combustíveis fósseis e, especialmente, em direção a projetos verdes em países que não têm acesso a esse dinheiro? Bem, existem várias maneiras: podem-se taxar as emissões de carbono (o chamado Imposto de Carbono), colocar as emissões na bolsa (Emission Trading, ET) ou financiar os países desenvolvidos para que exportem tecnologias limpas para os países em desenvolvimento (Clean Development Mechanism, CDM).

Modelos de Financiamento – Cada um desses métodos tem prós e contras: um imposto sobre o carbono significa que, para cada volume de emissão de CO2, as indústrias devem pagar uma taxa ao Estado, ou seja, elas serão induzidas a investir cada vez mais em tecnologia limpa em sua cadeia produtiva. Existe o risco, no entanto, de que as indústrias aumentem os preços de seus produtos e, assim, as consequências seriam pagas pelos consumidores. Mas ainda assim não seria mal: os produtos feitos com maior intensidade de combustíveis fósseis custariam mais e, assim, os consumidores direcionariam suas escolhas a produtos mais verdes (Climate Neutral).

O sistema de Emission Trading permite colocar um preço sobre as emissões com base na oferta e na procura de licenças de emissão, que seriam gradualmente retiradas do mercado. Estes títulos, assim, devem se tornar cada vez mais caros, e será conveniente para as empresas investir em tecnologias limpas para produzir.

Através do Clean Development Mechanism, as empresas que investem em projetos de mitigação e adaptação nos países em desenvolvimento recebem, em troca, licenças de emissão que podem usar (ou vender). Desta forma, por um lado, há a transferência de tecnologia e conhecimento dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, mas por outro, a criação e comercialização de novas licenças de emissão que iriam compensar aquelas retiradas por via da Emission Trading. Assim, voltamos ao início.

O foco sobre esta questão será alto nesses últimos dias, já que o acordo final deverá indicar algumas práticas sobre como as ações serão financiadas. Dissemos que a mudança climática existe e que é, em grande parte, causada pela atividade humana. E dissemos também que temos de fazer alguma coisa. Mas fazer alguma coisa tem um custo. Além das razões morais, da natureza que devem ser protegida porque é um direito humano de todos e das gerações futuras, a questão é onde encontrar os fundos e como distribuí-los.