O discurso e a prática: coerência faz a diferença

Hoje pela manhã estive presente à palestra que a ambientalista Marina Silva proferiu no UniCEUB com o tema A construção de um novo paradigma de desenvolvimento no século 21. Não podia ter sido mais impactante seja pelo alerta, seja para capacidade argumentativa, seja pela simplicidade e pela narrativa. Uma aluna, ao terminar a palestra, me olhou e expressou silenciosamente: ual!, que foi isso!

Isso foi a palestra de mais de uma hora, de pura atenção concentrada, em que Marina Silva diz com todas as letras que precisamos resignificar a nossa existência como humanos orientando nossas vidas para sermos algo e não para termos algo. E que o país precisa de uma visão, de um Plano, para que se torne uma potência ambiental e possa direcionar suas ações para a sustentabilidade.

Um discurso voltado para o chamamento interno de que o ter é importante mas não o exagero; que a palavra de ordem será parcimônia para os tempos difícies que virão por conta das mudanças climáticas. Exemplificando, Marina disse que um chinês come cerca de 200 quilos de grãos/ano e que os nós e os americanos comemos 800 quilos/ano incluidos aí os grãos que alimentam as vacas e as galinhas que comemos. No mundo há cerca de 2 bilhões de seres humanos que vivem com menos de 2 dolares/dia. Isto não é pobreza ou miséria. Isso é fome! E o demais é desperdício.

Marina falou de valores éticos o tempo todo. Falou da necessidade de Política com P maiúsculo. Mostrou que a falta de ética da substentabilidade permite decisões voltadas para o lucro e não voltadas para o desenvolvimento sustentável, que busca o equilíbrio em três dimensões (social, econômica e ecológica). Exemplificou contando que quando esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente ficou conhecida pelo apelido de ministra dos bagres porque não autorizou a construção de uma barreira de contenção de sedimentos para a turbina da hidrelétrica no rio Madeira pois havia tecnologia que permitia a construção de outro tipo de contenção que não alteraria ou modificaria o ciclo de reprodução dos peixes (bagres). Segundo ela, depois que saiu do Ministério o governo autorizou a obra lucrativa e os bagres hoje estão sofrendo e junto com eles o homem ribeirinho e as comunidades da região.

Marina Silva trouxe como argumento central o conceito de desadaptação criativa. E essa reflexão vai ficar para o próximo post. Marina Silva é ambientalista, ex-senadora, ex-candidata à Presidência da República em 2010.

Marina Silva alerta: Brasil precisa de Plano para ser país do século XXI

A ambientalista Marina Silva considera o Brasil uma potência ambiental, mas entende que é preciso construir um Plano, uma visão de país, que ultrapasse a barreira da política partidária para que isso se torne realidade. “O Brasil está para o século XXI como os Estados Unidos estiveram para o século XX”, disse Marina ao enfatizar que 11% da água doce do mundo e 22% da biodiversidade estão no Brasil e de que 45% da matriz energética do país já é de energia limpa. Para Marina Silva, o país está vivendo uma janela de oportunidade que vai durar 20 anos e que por isso é preciso investir em Educação e em inovação com novos produtos e novos materiais. “Estamos vivendo o bônus demográfico, depois a força de trabalho vai diminuir havendo mais crianças e mais idosos do que jovens”, lembrou.

Para Marina, independentemente do partido que esteja no poder, o Plano para o país deve buscar uma economia de baixo carbono e uma produção que reduza o uso de recursos naturais para fazer frente às mudanças climáticas que estão ocorrendo e que afetam a todos em todos os países. “Desenvolvimento sustentável é o novo paradigma do século XXI”, enfatizou Marina, argumentando que é necessário priorizar a agenda de investimentos do país, numa sutil crítica aos rumos do atual governo federal. Para ela, somente estabelecendo prioridades no âmbito da sustentabilidade será possível construir um novo modelo de desenvolvimento, que seja compatível com os desafios ambientais que a civilização humana precisa enfrentar. “Temos as respostas técnicas para os problemas; não temos a base ética que coloque a técnica a serviço da qualidade de vida dos seres humanos”, comentou a ex-senadora e candidata à Presidência da República em 2010.

Concluindo a palestra de mais de uma hora em que falou para professores e estudantes na abertura do X Congresso Científico do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), nesta terça-feira (2 de outubro de 2012), Marina Silva enfatizou que as respostas para os problemas atuais são múltiplas e que a decisão de seguir um caminho mais sustentável passa pela mudança de paradigma em que se substitua a ética de circunstância, aquela em que se faz coro com outros, por uma ética da sustentabilidade em que as decisões sejam orientadas para o ser e não para o fazer. “É preciso resignificar a nossa existência, nos perguntando o que queremos ser e não o que queremos ter”, disse Marina, lembrando que a limitação (falta de recursos para todos) é a perda da liberdade.

Matéria jornalística produzida para a Agência de Notícias UniCEUB. http://www.agenciadenoticias.uniceub.br/search/label/Sustentabilidade