Alfabetização para as Mudanças Climáticas: comunicação como prioridade

Quanto mais avanço em minhas leituras, mas percebo a importância de proporcionar instrumentos para a tangibilidade de Mudanças Climáticas (climate change). O jogo que criamos é um dos muitos instrumentos para a alfabetização sobre Ciências do Clima, Efeito de Estufa, Mudanças Climáticas e Aquecimento Global. Aventura Climática© tem dois eixos comunicacionais e dois eixos científicos. Os eixos comunicacionais são a informação e a interação social e os eixos científicos são as condições de vida proporcionadas pelo equilíbrio no efeito de estufa e a ética do clima como bem comum a toda a humanidade.

FreeImages.com/Thiago Felipe Festa

FreeImages.com/Thiago Festa

A tangibilidade sobre Mudanças Climáticas permite compreender o que é abstrato. Diria que não tem sido a Comunicação e a Educação que nos tem facilitado essa tarefa, apesar dos muitos esforços. Diria que essa tangibilidade nos tem chegado via eventos extremos, destruição, mortes e consequências penosas como a falta de comida e a falta de água. Parte dessa ausência de alfabetização está no discurso da Ciência, muito hermético, pouco compreensível e de difícil acesso. Dois cientistas falaram sobre isso no mês de outubro. Os recém-empossados presidente da Academia de Ciências do estado de São Paulo (ACIESP), no Brasil, Marcos Buckeridge, e o diretor do IPCC (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, sigla em Inglês), Hoesung Lee.

Marcos Buckeridge (foto) enfatizou a questão da incerteza, que é o coração da Ciência, o modo mais particular de como ela processa a informação. Marcos Buckeridge ACIESPPara ele, a ausência de compreensão do que é a incerteza em Ciência é o nó que não permite que a comunicação flua pelos canais e chegue ao receptor. E defende que o trabalho em conjunto entre atores sociais é o caminho para a solução de problemas complexos que nos impõe as mudanças climáticas. Suas ideias estão no post que publicou no Blog da ACIESP (25 out 2015) e depois republicado no Jornal da Ciência da SBPC (30 out 2015).

A complexidade da linguagem científica parece ser atualmente uma barreira quase intransponível para que a informação chegue à sociedade de forma clara. …. O que parece faltar na conexão entre o mundo científico e o social é um acordo sobre o que significa a incerteza. … Não há como setores isolados da sociedade resolverem sozinhos os problemas complexos como os oriundos dos impactos das mudanças climáticas.

Marcos Buckeridge

O diretor do IPCC, Hoesung Lee, em seu discurso de posse, em 6 de outubro de 2015, também trouxa a comunicação como um problema central para a efetiva relação entre mundo da Ciência e mundo da Política e das Pessoas. Ele enfatizou a necessidade de os relatórios do IPCC serem mais bem “traduzidos” e com isso falarem mais de perto com os decisores políticos por intermédio de infográficos e visualização de dados e de uma linguagem mais compreensível.

Parece mesmo que as Mudanças Climáticas têm um problema de comunicação e que esse problema envolve tanto a alfabetização sobre o fenômeno, seus impactos e as incertezas a ele inerente como a necessidade de uma gestão integrada e decisões em conjunto por parte da sociedade. E o jornalismo científico tem sido um dos braços fortes na solução do problema de comunicação.

Como gestora de Comunicação me pergunto: qual o conjunto adequado de ações e estratégias que as instituições devem desenhar em seus Planos Estratégicos de Comunicação para fazer frente ao problema? Não é tarefa fácil comunicar a incerteza, comunicar para a alfabetização e comunicar para criar, manter e aprimorar fluxos e processos comunicacionais entre atores sociais. O assunto será objeto, estou certa, de futuros blog posts.

Jon Stewart: Infoentretenimento e Climate Change

Hoje, quinta-feira, dia 6 de agosto 2015, foi o último programa de Jon Stewart à frente do The Daily Show, veiculado por Comedy Central. A matéria feita pela BBC dentro do estúdio ressaltou os motivos porque o nome de Stewart fica na história. Jon Stewart Last ShowQuando começou em 1999, vestiu a comédia e a sátira política com as roupas do jornalismo:  bancada, figura do âncora, reuniões de pauta, cenário, movimento de câmera, quadros fixos, entrevistados e correspondentes. Só que tudo era “fake news“, ou seja, um jornalismo de mentira – na verdade, um programa de sátira política.

O estilo tornou-se gênero. Stewart havia inaugurado o infoentretenimento. No Brasil, o gênero ganha notoriedade com o CQC, programa veiculado pela TV Bandeirantes, cujo âncora líder é Marcelo Tas, ícone de inovação em termos de programação televisiva, tendo criado, na década de 80, o repórter Ernesto Varela – “um repórter de mentira que faz perguntas para gente de verdade“.

Erneto Varela website

O CQC, na verdade, origina-se na Argentina e a TV Bandeirantes compra a marca do programa para veiculá-lo no Brasil a partir de 2008. A sátira política no Brasil dentro da televisão também conheceu outras histórias, como a da personagem desenvolvida por Chico Anísio chamada Salomé (uma senhora idosa que falava ao telefone), que, nos anos 80, criticava a ditadura militar brasileira pedindo a cabeça de João Batista, em analogia ao nome do presidente João Figueiredo.

Meu tributo a Jon Stewart é conhecer como Climate Change é tratado no The Daily Show. Resolvi fazer um levantamento e constituir um banco de dados. A primeira varredura utilizou o sistema de busca do próprio site. Essa varredura mostrou que Climate Change (Mudança Climática) e Global Warming (Aquecimento Global) foram ambos arquivados de maneira equivalente, inclusive com takes que se repetem em ambos os resultados num total aproximado de 70. O banco de dados ainda estar por terminar e já conta com 268 quadros que englobam desde clips do dia a entrevistas com personalidades. As personalidades que foram entrevistas mais de uma vez são Al Gore, Bill Clinton e Barack Obama.

À primeira vista, a sátira política sobre CC/WG abrange o âmbito doméstico dos Estados Unidos que domina os mais de 200 minutos até agora levantados. Stu, como ficou conhecido, também dedicou tempo à agenda global da política do clima, principalmente aos eventos relacionados às conferências das partes (COP), divulgação de relatório do IPCC, Climagate (vazamento de emails de cientistas do IPCC no Reino Unido) e o fracasso de Copenhagen, em 2009, em estabelecer avanços globais para o Protocolo de Kyoto. Assim que terminar o levantamento, escrevo um blogpost.